O setor de turismo é um dos pilares da economia global, movimentando trilhões de dólares e empregando milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, essa indústria é responsável por uma significativa parcela do Produto Interno Bruto (PIB) e tem mostrado sinais importantes de recuperação e crescimento após os anos críticos da pandemia.
Apesar desse cenário promissor, muitas empresas do setor ainda enfrentam sérios desafios relacionados à gestão financeira. A sazonalidade, as flutuações, a dependência de fatores externos e a complexidade das operações (pagamento de fornecedores, comissões, parcelamentos) tornam indispensável um controle financeiro rigoroso e eficiente.
Ignorar práticas adequadas de gestão financeira pode resultar em endividamento e gerar dados severos à empresa. Por outro lado, os empreendimentos que investem em planejamento financeiro estruturado conseguem não apenas manter a estabilidade, mas também impulsionar o crescimento de maneira sustentável.
Neste artigo, exploraremos os erros mais comuns que empresas de turismo cometem na gestão financeira e apresentaremos soluções práticas para evitar esses equívocos, com foco em promover a saúde financeira e a competitividade no mercado.
1. Misturar finanças pessoais e empresariais
Alguns empreendedores cometem o erro em misturar os recursos da empresa com os próprios, realizando retiradas informais ou utilizando receitas da empresa para cobrir despesas pessoais. Embora pareça uma prática inofensiva no início, esse hábito pode trazer sérias consequências:
1. Falta de clareza financeira: torna-se impossível identificar se a empresa está realmente sendo lucrativa ou se está apenas sustentando o estilo de vida do proprietário
2. Comprometimento do capital de giro: a empresa pode ficar sem recursos para cumprir compromissos importantes, como pagamento de fornecedores, colaboradores ou investimentos em marketing e infraestrutura.
3. Dificuldade na gestão financeira e planejamento: sem uma visão clara das receitas e despesas empresariais, não é possível estabelecer estratégias eficientes para crescimento, investimentos e redução de custos.
4. Risco de problemas fiscais e legais: misturar contas pode dificultar a comprovação de movimentações financeiras, o que pode gerar problemas com o Fisco, principalmente em casos de fiscalização, além de aumentar o risco de autuações e multas.
Muitos empresários do turismo não buscam orientação de contadores ou consultores financeiros e acabam adotando práticas inadequadas por desconhecimento.
Soluções para evitar esse erro:
Abaixo, listamos algumas ações que podem ser implementadas na sua empresa, para diferenciar os recursos do empreendimento com os seus recursos pessoais.
- Separação total das contas bancárias
É muito importante abrir uma conta exclusiva para a empresa é o primeiro e mais importante passo. Todo o faturamento deve entrar nesta conta, e todas as despesas da empresa devem ser pagas por ela. Já as suas despesas pessoais devem ser pagas com recursos retirados formalmente, após o cálculo dos lucros.
- Definir pró-labore
O proprietário deve definir um pró-labore fixo, ou seja, uma remuneração mensal, como se fosse o salário de um colaborador. Esse valor deve ser compatível com as finanças da empresa e suficiente para cobrir as despesas pessoais. O pró-labore deve ser formalizado e lançado na contabilidade da empresa.
- Estabelecer reservas financeiras
É muito importante que você tenha uma reserva de emergência pessoal para evitar recorrer ao caixa da empresa em situações inesperadas. A empresa também deve ter seu próprio fundo de reserva, especialmente importante em negócios sazonais, como é o caso do turismo. E até mesmo para investimentos necessários para o crescimento da empresa.
- Contratar um contador ou consultor financeiro
Profissionais especializados ajudam a estruturar corretamente as finanças, garantindo conformidade com as obrigações legais e orientando sobre as melhores práticas de gestão financeira.
- Utilizar softwares de gestão financeira
Algumas ferramentas do mercado permitem separar e acompanhar facilmente as finanças empresariais. Esses sistemas ajudam no controle de fluxo de caixa, emissão de relatórios financeiros e cálculo de tributos.
Pelo próprio Paytour, você consegue emitir relatórios financeiros e operacionais que ajudarão a ter um maior controle sobre o fluxo de vendas da sua empresa: quantas atividades vendeu e quanto faturou no mês ou ano. Esses dados podem ser incluídos em outras plataformas que auxiliam na gestão de caixa da sua empresa.
2. Falta de planejamento financeiro
Ao tomar decisões baseadas em pressões imediatas ou “intuição”, sem um planejamento estruturado que considere os custos que envolvem a operação da empresa, você pode afetar negativamente a sua empresa.
O turismo é um setor altamente sazonal. Períodos de alta demanda, como férias escolares e feriados prolongados, contrastam com meses de baixa procura. Sem planejamento, as empresas não conseguem equilibrar receita e despesas ao longo do ano.
Como consequência, a empresa acaba não conseguindo prever entradas e saídas de caixa, correndo o risco de ficar sem recursos para pagar fornecedores ou honrar compromissos importantes. Bem como, não consegue se preparar para investir em melhorias, promoções ou aproveitar tendências e novas demandas do mercado.
E por fim, a longo ou médio prazo, o empreendimento fica com a sua sobrevivência comprometida, especialmente em momentos de crise ou baixa,
Sinais de que sua empresa está falhando no planejamento financeiro:
- Não possui metas financeiras definidas.
- Não realiza projeções de receita e despesa.
- Não controla o fluxo de caixa regularmente.
- Tem dificuldades para cobrir custos fixos nos períodos de baixa temporada.
- Depende de empréstimos frequentes para manter as operações.
Como evitar esse erro:
- Elabore um plano financeiro anual e trimestral
Baseie-se no histórico de vendas e na sazonalidade para estimar receitas ao longo do ano. Faça um mapeamento das suas despesas, incluindo todos os custos fixos (aluguel, salários, tecnologia) e variáveis (comissões, fornecedores, marketing).
Tenha uma projeção de lucros e fluxo de caixa, determinando quanto pretende lucrar e como será a movimentação de caixa mês a mês, identificando possíveis déficits e antecipando soluções.
- Crie um fundo de reserva financeira
Crie uma reserva para baixa temporada, destinando parte da receita dos meses de alta para um fundo que ajude a cobrir custos nos meses mais fracos. Bem como, tenha uma reserva de emergência para imprevistos que são comuns no turismo. Isso ajuda a evitar que você precise recorrer a créditos caros.
- Estabeleça indicadores financeiros (KPIs)
O acompanhamento de indicadores ajuda a empresa a ajustar o planejamento com mais precisão. Podemos citar como exemplo os seguintes KPIs:
- Margem de lucro por pacote vendido
- Índice de inadimplência
- Ticket médio por cliente
- Custo de aquisição de clientes (CAC)
- Retorno sobre o investimento (ROI) em campanhas de marketing
- Faça análises periódicas
Realize revisões mensais e trimestrais do planejamento financeiro, ajustando as projeções conforme o desempenho real da empresa.
3. Não controlar adequadamente o fluxo de caixa
O fluxo de caixa é o instrumento que permite visualizar todas as entradas e saídas financeiras de uma empresa em determinado período. Sua função não é apenas mostrar o saldo disponível, mas também prever a disponibilidade futura de recursos para que a empresa consiga cumprir com suas obrigações e tomar decisões estratégicas.
Em empresas do setor de turismo, onde existe uma combinação de sazonalidade, vendas antecipadas, comissionamentos e pacotes que envolvem múltiplos fornecedores, o controle do fluxo de caixa é ainda mais essencial.
Sendo assim, em situações onde o cliente paga com antecedência, mas os custos podem ocorrer posteriormente, por exemplo, o gestor pode ter a falsa sensação de uma disponibilidade financeira.
A falta de controle sobre a operação financeira gera consequências diversas para a empresa, impedindo uma visão clara do fluxo de caixa e fazendo com que os gestores não saibam quanto dinheiro terá disponível nos próximos meses. Bem como, se podem investir, contratar ou lançar novas campanhas.
Isso pode gerar, até mesmo, uma sensação frequente de que “falta dinheiro”, apesar de boas vendas.
Sugestões para evitar esse erro:
- Atualização de um fluxo de caixa projetado
Não basta apenas registrar as entradas e saídas passadas. É essencial projetar o fluxo de caixa futuro, considerando os prazos de pagamentos e recebimentos. Você pode categorizar as entradas (vendas à vista, vendas parceladas, recebimentos futuros) e as saídas (fornecedores, comissões, impostos, folha de pagamento. Outra ideia está em realizar projeções semanais, mensais e trimestrais.
- Separar o que é faturamento de recebimento
Faturar não significa que o dinheiro entrou no caixa. Por isso, deve-se controlar o prazo real de entrada de cada venda, especialmente em casos de parcelamento.
- Negociar prazos com fornecedores
Sempre que possível, alinhar o prazo de pagamento com o de recebimento do cliente. Pois, isso evita a necessidade de capital próprio ou empréstimos para cobrir “buracos” no caixa.
4. Precificação inadequada dos serviços
No setor de turismo, a precificação é uma tarefa complexa que envolve muito mais do que simplesmente somar custos e aplicar uma margem de lucro. Ela exige considerar fatores como sazonalidade, concorrência, valor percebido pelo cliente, custos ocultos e posicionamento de mercado.
Porém, muitas empresas cometem o erro de realizar uma precificação inadequada, seja cobrando valores muito baixos, sem levar em consideração os custos básicos, ou valores excessivamente altos, que afastam potenciais clientes. Algumas empresas baseiam seus preços exclusivamente no que os concorrentes cobram, sem analisar seus próprios custos, diferenciais e posicionamento. Bem como, não ajustam sua precificação conforme a alta ou baixa temporada, o que pode gerar perdas financeiras ou afastar clientes.
O que você pode fazer:
- Realize uma formação de preço estruturada
Identifique todos os custos diretos, que incidem sobre cada serviço que é oferecido pela sua empresa. Bem como, considere despesas fixas como aluguel, salários administrativos, marketing, sistemas e taxas financeiras. Também estabeleça uma margem que não apenas cubra os custos, mas gere lucro suficiente para reinvestimento e crescimento.
- Aplique o markup de forma consciente
O markup (fator de multiplicação aplicado sobre os custos) deve levar em conta: custos totais, despesas financeiras, impostos (ISS, PIS/COFINS, etc.) e lucro desejado.
- Estude o mercado e a concorrência, mas sem copiá-los
Conhecer os preços praticados pelos concorrentes é importante, mas não deve ser o único critério. Por isso, avalie o seu diferencial competitivo (atendimento, roteiros exclusivos, parcerias); a reputação e percepção de valor da sua marca e o perfil do seu cliente ideal.
- Valorize o diferencial da sua empresa
Não foque apenas em preços baixos. Muitas vezes, o cliente está disposto a pagar mais por: serviços personalizados, atendimento exclusivo, garantia de segurança e experiências únicas
- Adapte os preços conforme a sazonalidade
Ajuste os preços para refletir a variação na demanda:
– Preços mais altos na alta temporada, feriados e eventos.
– Preços promocionais ou com condições especiais na baixa temporada.
Isso ajuda a equilibrar a ocupação e otimizar o fluxo de caixa.
5. Ignorar indicadores financeiros
Empresas de turismo que não acompanham indicadores financeiros acabam tomando decisões intuitivas e desinformadas, colocando em risco sua rentabilidade, eficiência e capacidade de crescimento.
Os indicadores financeiros são métricas que oferecem uma visão objetiva da saúde financeira e operacional da empresa. Ignorá-los significa não perceber problemas a tempo, não mensurar o sucesso das estratégias e não otimizar processos.
Sem eles, não é possível saber onde a empresa está gastando demais, quais produtos são mais rentáveis ou se as operações são eficientes. Isso também dificulta decisões de investimento, contratação ou expansão são baseadas no “achismo” e não em dados concretos.
Principais indicadores financeiros que empresas de turismo devem monitorar:
- Lucro Bruto e Lucro Líquido: mede se a operação está gerando resultado positivo após descontar os custos e despesas.
- Margem de Contribuição: mostra quanto sobra de cada venda, após pagar custos variáveis, para cobrir as despesas fixas e gerar lucro. É essencial para avaliar a viabilidade de cada produto turístico.
- Ponto de Equilíbrio (Break-even Point): indica o volume mínimo de vendas necessário para cobrir todos os custos. Sem esse indicador, a empresa não sabe quanto precisa vender para não ter prejuízo.
- Fluxo de Caixa Operacional: mede se as operações diárias estão gerando caixa suficiente para manter a empresa.
- Endividamento e Alavancagem: indicam o nível de dívidas da empresa em relação ao patrimônio e à geração de caixa.
- Ticket Médio: valor médio gasto por cliente. É importante para traçar estratégias de vendas e definir metas.
- Taxa de Conversão: mede quantos orçamentos se transformam em vendas efetivas.
6. Negligenciar a gestão de dívidas
A gestão inadequada ou inexistente das dívidas é um dos principais erros que comprometem a sustentabilidade financeira de empresas de turismo.
Muitas vezes, empresários acumulam empréstimos, parcelamentos e financiamentos sem um controle rigoroso, o que gera um efeito bola de neve: aumento do endividamento, elevação dos juros e perda de crédito. Sem planejamento, a empresa acaba contratando sucessivos empréstimos para pagar dívidas antigas, agravando a situação. Os atrasos e inadimplência prejudicam o score de crédito da empresa, limitando o acesso a financiamentos futuros com melhores condições.
E altos compromissos financeiros com dívidas reduzem a capacidade de pagamento de despesas operacionais, salários e investimentos. Tudo isso prejudica a imagem da empresa junto a fornecedores, parceiros e clientes.
O que pode te ajudar:
- Realize um diagnóstico financeiro completo
Levante todas as dívidas existentes: valor total de cada uma, prazo de pagamento, taxa de juros e garantias envolvidas
- Renegocie condições com credores
Busque uma redução de juros e a ampliação de prazos. Muitas instituições financeiras oferecem programas de renegociação, especialmente para empresas com bom histórico.
- Evite crédito fácil e caro
É sempre importante evitar soluções de curto prazo como: empréstimos rotativos, cheque especial e antecipação de recebíveis sem avaliação do custo
- Crie um plano de amortização de dívidas
Defina a prioridade de pagamento e o percentual fixo do faturamento mensal destinado à quitação de dívidas. Também monitore rigorosamente o cumprimento do plano.
- Adote ferramentas de controle financeiro
Utilize sistemas que centralizam informações sobre dívidas, vencimentos, juros e fluxo de caixa projetado
Conclusão
A gestão financeira eficiente é um dos pilares para o sucesso e a longevidade de qualquer empresa de turismo. Evitar erros comuns como misturar finanças, não planejar adequadamente ou negligenciar indicadores financeiros é fundamental para manter a saúde econômica do negócio.
Investir em capacitação, ferramentas de gestão e consultorias especializadas pode ser um diferencial importante nesse processo. Lembre-se: uma empresa que conhece bem sua situação financeira tem mais segurança para inovar, crescer e encantar seus clientes com experiências inesquecíveis.